sexta-feira, 3 de junho de 2011

A religião da comunicação mediática

"Não acredito que o serviço público possa ser adequadamente assegurado por operadores privados."

Mário Mesquita

Alguma televisão argumenta que é o que é em resultado de sondagens, de uma interactividade essencialmente democrática. Isso é, realmente, participação...? Há quem fale em demagogia...
Nem tudo é demagogia nesse plano. Na área das novas tecnologias da comunicação, designadamente na Internet, há motivos para uma grande esperança quanto à possibilidade de interactividade, de diálogo, de debate. É um espaço fortemente investido por lógicas económicas, comercias e publicitárias, mas que rompe, inegavelmente, com a lógica do (quase) monopólio dos comunicadores que domina nos media tradicionais (televisão, rádio e jornais). Resta saber em que medida estes poderiam, recorrendo às potencialidades das novas tecnologias, desenvolver novas práticas interactivas...
E no domínio específico dos media portugueses...?
...Na televisão tenho visto sobretudo encenações de interactividade: as tais sondagens telefónicas, por exemplo. Além disso, existe a tendência para transformar pessoas comuns em vedetas de televisão, fazendo-as sair do anonimato por uma hora, o que se relaciona com a utilização da TV enquanto gestora de afectos e emoções... E isso - mesmo que não tenha interesse do ponto de vista da estruturação de um regime democrático - possui determinado valor na perspectiva da sociedade em que vivemos e de quem participa como actor convidado nesses espectáculos...
...Os reality shows, acha...?
...Pois... Mas, além disso, há lugares de debate, como o Fórum TSF, que têm desempenhado um papel interessante. Nele participam, lado a lado, líderes de opinião (políticos, económicos, culturais) e pessoas desconhecidas do "grande público", além de um terceiro género, mais difícil de reconhecer, constituído por "porta-vozes" de determinadas forças que não se apresentam identificados como tal... O que entrou em declínio foi o debate organizado com participantes escolhidos em função de critérios de representatividade político-social ou da respectiva ligação às instituições de ensino, de cultura, de investigação. Há uma atitude negativa em relação a esse tipo de entrevistas, por ser gerador de fraca rentabilidade em termos de audiências. Além disso, certos jornalistas parecem acreditar que podem substituir, com vantagem, os actores políticos, sociais e culturais dotados de certo tipo de representatividade...

(Entrevista a Mário Mesquita)

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