
Montag, porém, parece estar a despertar...
A excelente capacidade narrativa e poética de Chico Buarque ultrapassa o campo da música. Os livros de Chico Buarque dão-nos momentos de prazer impressionantes. Vejam só este excerto.
“(…) Como não conheço ninguém, tenho liberdade para contornar as mesas e emendar fragmentos de discursos, discussões, gargalhadas. Outras pessoas reúnem-se de pé na extensão do gramado, formando uma sequência de círculos. Posso observar como se comporta um círculo, como se fecha, como se abre, como um círculo se incorpora a outros. Vejo circunferências que se dilatam exageradamente, até que se rompem feito bolhas e dão vida a novas rodas de conversa. Vejo rodas sonolentas, que permanecem rodas pela geometria, não pelo assunto. Tento acompanhar assuntos que saem de uma roda para animar a outra, e a outra, e a outra, como uma engrenagem. Há instantes em que a festa inteira parece combinar uma pausa, e ouve-se então um acorde da orquestra que toca músicas dançantes no interior da casa.” Chico Buarque – Estorvo
Francisco Buarque de Hollanda nasceu no Rio de Janeiro, em 19 de Junho de 1944, mais conhecido como Chico Buarque ou ainda Chico Buarque de Hollanda, é um músico, dramaturgo e escritor brasileiro. Filho do historiador Sérgio Buarque de Hollanda, iniciou sua carreira na década de 1960, destacando-se em 1966, quando venceu, com a canção A Banda, o festival de música popular brasileira. Socialista declarado, auto exilou-se na Itália em 1969, devido à crescente repressão da ditadura militar no Brasil, tornando-se, ao voltar, em 1970, um dos artistas mais activos na crítica política e na luta pela democratização do Brasil. Na carreira literária, foi ganhador de três prémios Jabuti: melhor romance em 1992 com Estorvo, além do Livro do Ano, tanto pelo livro Budapeste, lançado em 2004, como por Leite derramado, em 2010.