segunda-feira, 6 de junho de 2011

Memória e dignidade

"Seja um homem, Senhor Ridley. Vamos hoje, pela graça de Deus, acender na Inglaterra um facho que, tenho a certeza, nunca mais se extinguirá".


A frase - que mais tarde se sabe ter sido dita por um homem chamado Latimer a outro, Nicholas Ridley, no momento em que iam ser queimados vivos por heresia, em Oxford, a 16 de Outubro de 1555 - é recuperada pela mulher idosa que, vendo a sua casa ser invadida pelos bombeiros, entre os quais Montag, empenhados na missão de incendiar os livros proibidos que escondia no sótão, decide imolar-se - e à casa, e aos livros - pelo fogo, roubando aos incendiários a iniciativa e a própria morte.




Mas como pode uma frase destas, de 1555, chegar ao futuro desconhecido onde acontece este Fahrenheit 451? A resposta é óbvia: através dos livros. A própria origem da citação é revelada por um bombeiro, que confessa que de tantos livros queimarem há frases, soltas, que lhe povoam a mente. O pintor surrealista Salvador Dali chamar-lhe-ia a persistência da memória, os amantes dos livros sabem que os livros são a própria memória, não apenas do real mas também do imaginado, daquilo que é terreno dos sonhos e, por isso, também capital de humanidade.

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