quarta-feira, 8 de junho de 2011

Censura e eufemismos infantilizantes...


«Os negros não gostam de Little Black Sambo. Queimemo-lo. A Cabana do Pai Tomás não agrada aos brancos. Queimemo-lo. Um tipo escreveu um livro sobre o tabaco e o cancro do pulmão? Os fumadores de cigarros ficam consternados. Queimemos o livro. (…) Liquidemos os problemas, ou melhor ainda, lancemo-los no incinerador. (…) Queimemo-los, queimemos tudo.»

A teoria, explicada pelo capitão dos bombeiros, Beatty, a Montag, resume a filosofia vigente. Só no livro? Bem, talvez não tenhamos chegado a tanto, mas a tendência actual é para eufemizar tudo, da velhice à morte, do perigo à tristeza. O que não queimamos, escondemos. O que não embelezamos, tratamos com anti-depressivos. Teríamos hoje as obras-primas da literatura, e de outras artes, se os seus autores tivessem vivido na era Prozac? Mesmo em Portugal, país que Miguel de Unanumo chamou de suicida, o que seria de O Só, de António Nobre? Da poesia de Florbela Espanca ou de Fernando Pessoa? O que seria de nós sem o direito a aceder ao nosso lado lunar?
O que será de nós...






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